“O Eu móbil”

Nossos demônios compõem parte da nossa fera humana, traduzidos onde um desejo insaciável funde-se a crise quase epiléptica das palavras; seu registro, trêmulo, descreve a crítica situação do pensamento não evocado. Os pensamentos que vêm, entretanto, significam o medo emanado, audaciosamente, no seio da revolta e da rejeição. Eis o peso da verdade. Algo inalcançável, de abalo tectônico, no movimento da fala e na frágil oralidade do ser. Nunca nos expressaremos por completo, mas hemos de dar luz à angústia de sempre tentá-lo. É íntimo, e verídico. Guardamos o jardim secreto do sentimento em torno de um inteligível falho, incabível de metamorfose, um desmembrado e amórfico ideal de transcrição. Pensar é um ato errante. Deveras, jamais vazio. Este, solitário ermitão da consciência humana, perambula por entre quartos escuros de uma percepção infantil do desconhecido.

O vazio está sempre cheio, e seu vício estético é a ânsia de enxugá-lo por completo, até preenchê-lo. Ei-lo! O vazio sempre cheio. Os demônios da criatura divina. O ser entre o não ser, e ambos entre o devir. Quisera eu me calar um dia a voz deste endiabrado, deste enfermo ato, deste suspiro quase crônico da efusão lírica. É noite em aguardo de um novo dia a clareá-la, e vivemos sob expectativa e espera do novo, de algo a surgir para retirar a criança que insiste em retornar ao passado. Diante da tal cena, seria impiedoso considerar o tempo. Qual sua finalidade? A desordem existencial emana da impossibilidade de compreender algo que se estende aos nossos limites. Olhos claros não o poupam no breu. Pouco importa a cor do espelho, saibamos lidar com o reflexo. A realidade surge daí. Monstruosas noções da intuição que nos leva a um ponto de fuga na dimensão da galáxia. É tão complexo quanto parece. Em grossas linhas, nada existe além da paradoxal existência das coisas. Bem vestidos ou esfarrapados trapos, quem o veste – pouco importa -, te acolhe: bem-vindo à filosofia da loucura. Rimas pobres ainda nos representam magnificamente bem.